Durante anos, descobri-me e percebi-me nas palavras que me fugiam nuas por paginas e paginas de cadernos sem linhas cobertos a tinta preta. So assim eu. So assim um mundo de sentido onde tantas vezes não havia fio de meada.
E um dia, ha anos e anos, percebi-me uma tristeza que não tinha, revelada apenas nesses cadernos cobertos a tinta preta, pinguins gordinhos e amores perdidos. Nesse dia, que nunca foi um dia mas quer o estilo e o efeito que lhe chame assim, em jeito de epifania, fechei os cadernos e comecei a viver e a viver-me, feita de sol e aquele cheiro a maresia que faz felizes os filhos do mar e da costa portuguesa. Durou uns anos, a minha historia de amor com uma existência menos nostálgica e nada escrita, sem palavras que a recordem que não uns textos escritos em lingua universal sobre nada – qualidade que me assiste em mais idiomas – mas sem ponta da saudade lusa que me atormenta a alma desde S. Sebastiao. Ate hoje, de novo apenas e so em jeito figurado, que foge-me o tempo para agir aquando da vontade.
Hoje, nao ha cadernos, e que saudades tenho eu dos cadernos, tantas que haverá cadernos, so não hoje. Hoje, não ha cadernos mas ha o meu testar a vida, sem linhas e com palavras, nostálgicas e das outras, as que tem luz e rasgos de momentos felizes, como os que seguro com cuidado não fossem partir e entristecer-me a nostalgia para alem de si própria.
Tantos anos depois, eu a descobrir-me e a perceber-me nas palavras que me fogem em trajes menores por um ecra de luz. So assim eu, na minha nostalgia feliz.